A verdade é que uma
cinematografia pode alcançar diferentes níveis de discussão. Um muito comum é:
o cinema é uma ferramenta de função pública, e entendemos função pública no
sentido da interação com o telespectador, logo, o que devemos admitir aqui é se
deve existir uma ética que conduza a cinematografia. Ou ela deve se pautar
somente pelo reconhecimento de si, ou seja, a arte não tem dever nenhum em
relação ao seu público, assim como o público não é obrigado a acompanhar uma
obra. Obviamente as duas posições são radicais. Mas uma variação deste debate é
saber se uma obra deve oferecer um caráter moralizante a seu público ou um
caráter reflexivo. Para pensar a questão escolhemos o filme “Bruna
Surfistinha”.
“Bruna Surfistinha” é um bom filme, mas perde a graça ao lermos o livro do qual se baseou, “O doce veneno do escorpião”. Contudo, isto não importa. O filme procura construir um roteiro e uma linha de argumentos consolidadas no cinema, sem surpresas. “A adolescente rebelde que sai de casa para se prostituir”. Entretanto, existe uma covardia e uma coragem no filme, mas nem isso é certo.
Pensar que a história da prostituição no cinema já não é algo novo nos oferece um lugar de comparação. Por exemplo, o clássico “Pretty Baby” (1978) que resgata a história da prostituição no início do século XX e discute de forma silenciosa a consolidação moral da burguesia americana no contexto da Belle Époque e como seus valores irão mudar práticas muito comuns para a época e como os ritos de iniciação de uma nova prostituta dentro dos cabarés irão desaparecer.
O drama coloca o indivíduo com
peça chave de problematização e resolução dos entraves colocados pelo contexto.
Embora muitos personagens acompanhem sua trajetória, mas estes servem somente
para dar ênfase a complexidade da situação que o indivíduo experimenta. Os
personagens secundários do filme trabalham em função da estigmatização da
personagem central, isto é, sem o próprio filme se dar conta de que trabalha em
cima de um estigma. Por um lado, o filme,
corajosamente, traz á luz o debate de uma forma de prostituição em São Paulo.
Mostra, sutilmente, quais são os critérios que definirão se você será “puta de
luxo” ou “puta suburbana”. Um debate que a sociedade parece evitar e por isso
desconhece completamente suas divisões de território, sua linguagem, suas
diferenças mais latentes. E por isso, de um lado, ou acham que prostituição é
uma completa exploração e, de outro, é uma completa imoralidade o que não é
verdade. Por outro lado, ele aposta nos
clichês comerciais mais comuns para alcançar o sucesso. Nem todos admitem, mas
sexo e violência vendem. Embora eu concorde que ninguém faz filme para ser um
fracasso de bilheteria, mas qual é a formula para fazer um filme de caráter
reflexivo que atinja o público. Não tenho nada contra o cinema comercial, “Pretty
Baby” tinha a bela imagem de Susan Sarandon nua, no entanto, a fotografia e o
enquadramento acompanhavam a proposta do filme. Não tenho uma opinião definitiva
sobre o filme, o tempo pode-nos mostrar como estávamos errados acerca de
determinadas posições. Novos sentidos podem aparecer e, então, podemos olha-lo
com outros olhos e assim eu espero.
Adorei seu 'breve' retorno!
ResponderExcluirNão gostei do livro, nem do filme, nem da Secco...
Por outro lado acho muita hipocrisia; bôa parte da sociedade apontar o dedo para prostituição(seja de 'luxo' ou 'lixo') quando falamos em sexo lidamos com tabus...ou não?
Pq aquela mocinha ou mocinho que trabalha em seu escritório (em uma profissão 'aceita' pela sociedade)pode após expediente marcar várias sessões relax privê(cobrando por isso) ou transar com todos do trabalho(não cobrar) como classificamos uma pessoa assim?
Tô confusaaaaaaaa,rs.
Não gosto de rótulos, preconceitos...e admiro uma das PROFISSÕES MAIS ANTIGAS DO MUNDO:PROSTITUIÇÃO.
Afinal, de contas temos vários níveis de prostituição ou não?
Quando aceitamos um emprego com salário bem abaixo do nosso nível profissional...Isso tbm é uma maneira de prostituir?
ou não?
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adoro viajar!!!!!!
bjs