Magnólia






Magnólia acompanha um único dia da vida de vários personagens, cujas histórias se interligam a todo instante. O roteiro se preocupa em, rapidamente, apresentar cada um deles, até como forma de o espectador se situar na trama. Assim, temos Earl Partridge (Jason Robards), um sexagenário produtor de televisão, que está em seu leito de morte, aguardando o câncer encerrar o trabalho que já iniciou. Ele é casado com Linda (Julianne Moore, em um de seus vários filmes de 1999), uma mulher muitos anos mais jovem, que aceitou o casamento unicamente pelo dinheiro, mas que, naquelas horas finais, descobre que o ama. Earl tem ao seu lado o enfermeiro Phil Parma (Philip Seymour Hoffman), uma boa pessoa, que sensibiliza com os problemas de seu paciente, e luta para colocá-lo ao lado de seu filho, Frank Mackey (Tom Cruise), antes do evento trágico. Este, por sua vez, é uma espécie de Lair Ribeiro da sexualidade, que ensina aos homens a árdua e heróica tarefa de como seduzir e conquistar as mulheres. Paralelamente, Jimmy Gator (Philip Baker Hall) é um âncora de um programa tipo O Céu É O Limite, produzido por Earl, e que é exibido há mais de 30 anos. Ele também está combalido pelo câncer, e com pouco tempo de vida. Do ponto de vista pessoal, Jimmy tem problemas de relacionamento com sua filha Claudia (Melora Walters), rebelde, viciada em drogas pesadas, e que se entrega ao sexo com estranhos.



Ela encontra no policial de rua, Jim Kurring (John C. Reilly), uma chance de estruturar novamente sua vida. Do ponto de vista profissional, Jimmy, pressionado pelo câncer e pela ausência de diálogo com a filha, começa a ter dificuldades de comandar o espetáculo televisivo, respondendo de antemão as perguntas que ele mesmo elaborou para seus candidatos. Um deles é o garoto Stanley  Spector (Jeremy Blackman), um gênio de conhecimentos gerais, que está prestes a bater o recorde do programa e, por isso, receber um boa quantia em dinheiro como prêmio, sobre o qual seu pai não vê a hora de colocar as mãos. Enquanto isso, Donnie Smith (William H. Macy), famoso por ter sido, no passado, o detentor deste recorde, atualmente é um quarentão fracassado, lutando para manter-se no emprego de favor, e tentando conquistar um jovem barman.Basta este quadro para se perceber a complexidade dos temas trazidos em Magnólia. Histórias que se cruzam ao longo do filme, montando um ambicioso painel da sociedade média americana(e até mundial).
Outro ponto abordado no filme é o texto: "ficar encarando o passado e não progredir, é a coisa mais inútil..." Talvez Magnólia, tenha como um dos temas principais o passado. E o quanto devemos nos livrar dele(ou não). Ainda temos outro aspecto importante no filme que é a violência(principalmente, Pais contra Filhos) quem mostra isso no filme são os garotos do programa de Jimmy Gator. Sendo um deles o Donnie Smith um gênio(quando criança) e depois um adulto confuso, submisso que implora por atenção de sua família e sonha com um amor 'impossível'.Uma das frases marcantes(dentre tantas) : “a vida foi tirada de mim, tenho amor para dar, mas não sei como!”. O filme nos rende a uma belíssima crítica sobre a  lavagem cerebral midiática.
Essa visualização de pecados dos pais recaindo sobre os filhos, até surgir uma rede de sucessão, repetições de atos violentos, muitas vezes culmina em solidão, tristezas e depressão.

Enfim, Magnólia é um dramalhão sem fim? Não! Temos os bonzinhos na pele de terapeutas. Que auxiliam seus 'pacientes' a enfrentarem esse turbilhão chamado vida. No filme, temos um policial religioso, que só quer salvar pessoas.Um enfermeiro que se dedica de corpo e alma ao pai de Frank Mackey, sem pedir nada em troca.  Mas o que rendeu muitos prêmios ao filme foi a 'bendita' FrogStorm, talvez uma referência a outro versículo de Êxodos (8:2)


Um bom fechamento, igualando todos humanos diante de uma força absolutamente superior/transcendental a eles. Depois da chuva, entram em um período de arrependimentos, assumem seus erros, e encaram o tal perdão. Outra frase que resume muito bem o filme é:“Pai,você precisa ser mais legal comigo”. Todo pai e mãe deveria ter no filho um espelho de si mesmo. O que facilitaria a compreensão de alguns atos/erros cometidos pelos filhos. E alguns filhos deveriam ter mais respeito/amor por seus pais. Magnólia um filme muito além da nossa imaginação.Um filme que aos quinze minutos, nos mostra um prólogo de três histórias, com coincidências aparentemente estranhas e difíceis de ocorrer.
Com isso, o filme nos prepara para o universo inusitado que será desenvolvido ao longo do filme. A cena contida na última destas histórias, na qual um filho suicida se atira para a morte e é alvejado no meio do percurso, ainda no ar, pela própria mãe, pela bala do rifle que ele mesmo havia carregado, tudo isso por intermédio de gráficos, é genial.Magnólia é que deve ser visto mais de uma vez, até mesmo para se degustar todos os detalhes de suas várias histórias. Depois de assisti-lo 2 vezes, concluí que o verdadeiro tema do filme é: Culpa e Arrependimento. Tendo como pano de fundo: a corrosão da alma e a necessidade do perdão. O que para alguns personagens é tanta, que a morte surge como único e tardio alívio. O personagem de Jason Robards é o símbolo desta mensagem. É dela uma das melhores frases do filme: “A vida não é curta. Ao contrário, a vida é muito longa”



6 comentários:

  1. Otemo texto. Eh o tipo de texto que nos faz ter muita vontade de assistir o filme.
    Embora eu seja do tipo que naum acredite que a familia eh a estrutura fundamental da sociedade e muito menos acreditar na triade pai-mae-filho, eu entendo a forca que ela exerce sobre o indioviduo. Mas naum entendo que ela seja a principal em todos, pois os sentidos que os seres humanos produzem saum varias, embora os sentidos coletivos tbm retornam para ela.
    Mas voltando exclusivamente ao filme. Quero muito assisti-lo, penso que nossas vidas precisam destes dialogos, penso que alguns canais de livre dialogo foram interrompido, o que p[ensamos ser dialogos na verdade sao formas de controle. Quando a arte se estabelece, como um filme, dificilmente escapa deste dialogo possivel, deve ser por isso que eu gosto tanto de cinema. O cara pode ate ser censurado em alguns pontos, mas a arte sempre sera a arte, ela escapa e transpira por todos os poros.
    Naum sei o uqanto o passado tem importancia na vida de uma pessoa, mas acho que deveria ter importancia sim, mas naum da maneira seria como tratamos tudo, esquecer faz parte, assim como lembrar, mas naum de forma pesada. Deveriamos aprender a enxergar com mais leveza nossos fardos, justamente para sabermos que podemos nos livrar deles a qualquer momento. As vezes eu tenho a ideis de que somos realmente muito parecidos com elefantes, se sempre pensarmos que estamos presos a algo, sempre estaremos preso. A nossa civilizacaum eh completamente presa a questoes do passado e a uma certa seriedade na vida de forma desnecessaria, estupidamente desnecessaria. Todavia a coisa eh mais complexa.

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    1. O que mais gosto no filme é justamente a frase que citei ao final deste texto!

      Beijos e adorei que tu leu!

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  2. Ótimo PATI!
    É um triunfo pessoal na carreira do PTA. Magnólia, se for para escolher (se pudermos) é o seu melhor filme. Grandes interpretações numa narrativa muito bem estruturada. Referência para muitos aspirantes a roteiristas e cineastas. Um filme seminal, metafórico e fora do comum como é a obra de Anderson.

    Bjs.

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  3. Ótima reflexão Patricia. Este também é um dos meus favoritos de todos os tempos...

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  4. Realmente muito bom filme! Algo que percebi na hora e logo fiz um paralelo, foi quando Gator vai ser matar e o sapo bate no revólver e ele acidentalmente atira na televisão, uma sequencia muito parecida com o "assassinato" descrito no começo do filme, em que o garoto tenta o suicídio mas é morto por um tiro acidental de uma arma que ele mesmo carregou. A vida de Gator foi a televisão, era o apresentador do programa a mais tempo no ar nos EUA. Outra coisa curiosa é quando Claudia sorri no fim, só assisti o filme uma vez, porém tenho a leve impressão de que é a única vez que ela sorri durante todo o roteiro. Outro ponto também impressionante é a história de Stanley e Donnie que são extremamente semelhante, gênios "explorados" pelos seus pais. Em alguns momentos tive a impressão de que se tratava da mesma história em momentos diferentes, lembrem-se dessa frase dita constantemente pelo apresentador Jimmy Gator: “Talvez já passamos pelo passado mas o passado não passou por nós”. SENSACIONAL

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    1. Pedro,
      agradeço seu apoio e comentário.
      Quando puder conheça nosso grupo e Fanpage no Facebook, beijos.

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"O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho." (Orson Welles)

 

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